NEWSLETTER BERALMAR: "50 anos na BERALMAR" diz-se rápido. Como era a empresa quando chegou em 1966?
MANUEL MARTÍNEZ: Éramos um grupo de 4 ou 5 pessoas que fabricavam injetores de fuelóleo para os fornos Hoffmann, em Espanha, a partir de uma pequena oficina de Terrassa. Eu comecei na oficina, não pisei nenhuma cerâmica até 2 ou 3 anos mais tarde, quando começou a minha formação como técnico, que consistiu na permanência de bastantes meses sobretudo em duas cerâmicas de Sant Cugat (Barcelona) que já não existem, SUCERAM e ALMAR, onde aprendi ao pormenor todo o processo de fabrico, desde a preparação de terras e moldação, até à secagem e cozedura, quer no forno Hoffmann (maioritário naqueles tempos) quer no forno túnel. Nessa altura a vida tinha outra velocidade; hoje em dia uma aprendizagem tão prolongada no tempo seria impensável, mas para mim foi muito bom. Aprendi muito e fiquei preso ao mundo da cerâmica para sempre.
N.B.: Mérito dos seus superiores também.
M.M.: Evidentemente. É necessário dizer que o mundo da cerâmica, quando nos prende, não nos deixa ir.
N.B.: Viveu em primeira mão uma grande evolução tecnológica. De que partes do processo de fabrico acha que virão as próximas inovações?
M.M.: Acho que sobretudo no campo da automatização. Quando comecei na cozedura as medições eram feitas a olho, observando a cor do fogo. Em contrapartida, hoje em dia, com o meu telemóvel, ligo-me aos controlos de secagem e cozedura dos nossos clientes. A partir de um café de um hotel na Malásia sou capaz de alterar os parâmetros de um forno no México com um aparelho que me cabe no bolso. Os controlos automáticos dos processos de produção permitem que a partir de um ponto de controlo se giram todos os aspetos e parâmetros do processo, mas acho que a grande mudança que tem de chegar é que no futuro os próprios sistemas de controlo sejam capazes de tomar por si só as decisões corretas. Também imagino o uso de energias renováveis, como a fotovoltaica, no processo de secagem. As mudanças nos processos de cozedura são mais difíceis de prever para mim, mas certamente também existirão.
N.B.: Malásia, México...a cerâmica levou-o a todo o mundo.
M.M.: Há muitos anos que a BERALMAR vende para todo o mundo, mas é certo que a mim me tocou viajar mais devido à crise imobiliária em Espanha que já dura há quase 10 anos. Estive na África do Sul, na Índia, em todo o norte de África, na América Latina, nos Estados Unidos, na Rússia, nos Balcãs, etc. Vi todo o tipo de nível tecnológico, diferentes culturas cerâmicas, mas quando entramos numa cerâmica, seja qual for o país, todos nos entendemos, mesmo que não falemos o idioma. E quando digo que sou de Barcelona abrem-se muitas portas, é todo um cartão de apresentação. Mas depois esclareço que sou adepto do Real Madrid, para não haver confusões...
N.B.: [Risos] ...isto não sei se podemos publicar... Bem, e como vê a crise em Espanha? Parece que se vislumbra luz ao fundo do túnel.
M.M.: É uma pena porque esta crise levou dezenas de fábricas pela frente, muitas pessoas que considero amigos. Nunca se tinha visto uma crise como esta. As fábricas que melhor resistiram foram geralmente as mais pequenas. Agora parece que se voltam a planear investimentos, parece que existe mais confiança. Pessoalmente recebo mais consultas por parte dos nossos clientes este ano do que nos 5 anos anteriores.
N.B.: E como imagina o futuro da BERALMAR?
M.M.: Acho que a BERALMAR tem sido uma empresa muito esforçada. Fez-se um grande trabalho ao abrir mercados em todo o mundo, já desde antes da crise em Espanha. Vejo que existe uma equipa técnica muito boa. A empresa também tem muito jogo de cintura, adaptando-se aos diferentes níveis tecnológicos que os diferentes mercados exigem. A BERALMAR tem muito futuro.
N.B.: Muito futuro, com Manolo Martínez a bordo?
M.M.: Como dizia antes, quando o mundo da cerâmica nos prende, fá-lo para sempre. Agora que ninguém nos ouve confesso-lhe que desfruto muito do meu trabalho. Eu não trabalho: desfruto do meu trabalho. Desfruto ao pisar uma cerâmica, ao falar com um cliente, ao discutir soluções com outros técnicos. E sinto-me muito jovem. Não me imagino a ficar em casa nem a curto nem a médio prazo, apesar de também ter os meus passatempos, a minha família e amigos.
N.B.: Ou seja, ainda tem caminho a percorrer.
M.M.: Enquanto desfrutar da minha profissão e do contacto com os clientes, ainda terei caminho a percorrer. Além disso, desfruto a inovar, testando melhorias nos nossos equipamentos. Agora mesmo estou muito ocupado com uma inovação relacionada com uma câmara de combustão...
N.B.: ... então vamos ver se podemos falar disso em breve aqui na newsletter!
M.M.: Disso não tenha qualquer dúvida, quando inovo chego sempre a bom porto!
|